Prof. Marco Nunes
Editor do Nerd Cursos - Biologia
Um portal de materiais de estudos para o Enem e vestibulares
Vitória da Conquista - Bahia - Brasil
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ROTEIRO DO PODCAST
13 – Empatia e a Natureza Humana
¯Música de Abertura: Simple Plan - Welcome To My Life.
Olá estudantes! Sou o professor Marco Nunes e este é o podcast semanal do Nerd Cursos, um portal de materiais de apoio ao estudo para o Enem e vestibulares. O tema de hoje é sobre a empatia e a natureza humana.
¯Música Middle Ages, interprete desconhecido.
No século XIII, um jovem italiano, muito rico, chamado Giovanni Bernardone, viajou a Roma e visitou à igreja de São Pedro. Lá, se impressionou com um contraste, a riqueza e o luxo do interior da igreja e a pobreza das pessoas sentados à sua porta. Sensibilizado, trocou suas roupas pelas de um mendigo e passou o resto do dia experimentando a realidade dos miseráveis. Tempos depois, o jovem fundou uma ordem religiosa, dedicada aos mais pobres e aos doentes, cujos, os integrantes abdicavam de seus bens para viver na pobreza. Giovanni Bernardone é atualmente conhecido como São Francisco de Assis.
U Sinal de início da aula
¯Você ouviu o cearense Raimundo Fagner com a Oração de São Francisco e continuamos com a mesma música, agora em uma versão instrumental de Tim Rescala.
Quando São Francisco se colocou no lugar do mendigo, ele quis saber como era ser um indigente. A experiência foi tão intensa que mudou a sua vida para sempre. Isto, foi um caso de empatia. Então vou definir. Empatia é o ato de se pôr no lugar do outro e ver o mundo de uma outra perspectiva. A empatia, nem sempre é praticada com um choque de realidade, mas principalmente, de forma cognitiva, ou seja, imaginativa, como quando olhamos para uma pessoa e nela reconhecemos o seu estado de espirito e mudamos o nosso comportamento e com ela interagimos de forma adequada. Somos empáticos quando nos incomodamos ao ver alguém ser humilhado, quando nos sentimos desconfortáveis ao perceber que uma pessoa não tem as mesmas oportunidades que temos ou quando o sofrimento alheio nos sensibiliza. A empatia, muitas vezes nos estimula a agir a favor do outro, sendo uma importante característica humana, que nos torna pessoas boas, ajuda a manter e recuperar relacionamentos, derruba os preconceitos, e gera interesse no bem-estar do próximo, mesmo que sejam estranhos. A empatia cria vínculos humanos que tornam a vida digna de ser vivida.
Mas frente a um mundo que muitas vezes nos parece tão cruel e egoísta, poderíamos considerar a empatia um comportamento típico da natureza humana?
¯Você ouve Empathy, de Alanis Morissette.
O termo natureza humana faz referência as maneiras de pensar, sentir ou agir, que os seres humanos tendem a ter, independente da influência cultural, aborda quais as suas causas e quanto elas podem ser mudadas. A natureza humana é estudada por vários ramos do conhecimento. Hoje vamos explorar uma visão filosófica.
Começamos com a visão de Platão, onde, a natureza humana seria degenerada, mas poderia ser mantida sob controle, através do uso da razão. Para Platão, o mal no mundo real seria resultado da ignorância do bem no mundo das ideias perfeitas. Platão relacionava o controle da natureza humana a um governo feito por sábios que usando a razão saberiam o que seria melhor todos.
Ainda em uma visão da filosofia grega, para Aristóteles, o homem seria em essência individualista, mas em vida conjugal formaria uma família, viveria em tribos e aldeias, e sendo um animal político seria capaz de idealizar, construir e regular a vida em complexas cidades, as polis, alcançando nestas comunidades o seu melhor.
Na filosofia medieval cristã, representada pelo pensamento de Santo Agostinho, o homem seria herdeiro do pecado original de Adão e Eva, portanto, nascendo um pecador degenerado, que poderia passar a trilhar o caminho do bem e da justiça, ao aceitar os ensinamentos de cristo, desenvolvendo a humildade e a compaixão pelo próximo.
Nicolau Maquiavel, pensador renascentista do século XVI, defendeu na obra O Principe, uma visão muito pessimista, mas realista da natureza humana que conheceu em sua época. Para Maquiavel o homem seria egoísta, cruel, traiçoeiro e dissimulado, e para ser controlado precisaria de um governante, um príncipe, que pela força, imporia o temor para obter o respeito e preservar a paz.
Thomas Hobbes, filósofo Inglês do século XVII também defendeu uma natureza sombria para o homem, em uma influente obra, Leviatã. Para Hobbes, em estado de natureza, onde livres e iguais para fazer e possuir tudo o que desejaria, seríamos propensos a perseguir nossos objetivos de maneira individualista, sem nenhum controle ou autoridade, imperando a anarquia e a desordem, não havendo harmonia, nem cooperação, e sim, competição, instabilidade e incerteza, onde o mais forte predominaria. O estado de natureza seria uma “guerra de todos contra todos” em que a vida é “solitária, pobre, sórdida, brutal e curta”. “O homem seria o lobo do homem”.
¯Estamos ouvindo a baiana Pitty com O Lobo.
Ainda segundo Hobbes, a cooperação e a harmonia entre os humanos, só seria possível frente a uma artificialidade, a criação do estado civil, onde, os homens estabeleceriam um pacto, podemos dizer um contrato, onde voluntariamente, renunciariam a sua liberdade em favor de um estado absolutista constituído, em troca de um ambiente de confiança, proteção e paz. Ao monarca, caberia impor a todos os indivíduos o temor e a obediência, bem como determinar o que cabe a cada um, garantindo assim a paz.
Para René Descartes, filósofo iluminista do século XVII, os animais seriam regidos de forma mecânica, se atacados reagiriam com violência, mas o homem, ao contrário dos outros animais, seria o único a ser orientado pela razão, tendo a liberdade de agir em direção a justiça e a dignidade.
John Locke, filósofo inglês do século XVII, era mais otimista. Para ele, o homem seria uma tábula rasa, pois ao nascer, seria como uma folha em branco, onde, a experiência iria escrever suas instruções, determinando sua natureza boa ou má. Para Locke, o homem deveria disfrutar da liberdade, mas sem a liberdade de prejudicar os outros, devendo ser punido quando o fizer e o mal reparado. Mas, para isso ser feito com justiça e paz, o homem deveria ceder seu direito de executar a justiça com as próprias mãos, em favor de um corpo político, representativo do governo, um poder legislativo, que estabeleceria as leis e fiscalizaria o seu cumprimento por um poder executivo. Temos aqui mais um contrato.
Adam Smith, um pensador iluminista escocês do século XVIII, muito lembrado por ser o pai do capitalismo, por seu livro A Riqueza das Nações, também discutiu a natureza humana, em outra obra, A Teoria dos Sentimentos Morais. Para Smith, o homem agiria por interesses individuais, mas teria alguns princípios em sua natureza que o levaria a se interessar pela sorte dos outros, e tornaria a felicidade dos outros, necessária para a dele, ainda que nada ganhasse com ela, exceto o prazer de contempla-la. Smith, apresentava neste pensamento uma noção de empatia. ”
Jean-Jacques Rousseau, filósofo suíço iluminista do século XVIII, defendeu o conceito do “bom selvagem”, onde em estado primitivo o homem viveria em harmonia com seus semelhantes, mas que ao entrar em contado com o mundo civilizado das cidades seria corrompido. Para Rousseau, a vida em grandes comunidades poderia ser harmoniosa, se sustentada pela criação de um contrato social, um pacto, entre o povo e um governo, que equilibraria as questões de ordem e justiça. A principal cláusula deste contrato seria garantir a liberdade de todos para preservar as liberdades individuais.
Para Immanuel Kant, filósofo alemão do século XVIII, o homem não seria uma folha em branco determinado somente pelas suas experiências, mas sim, fortemente determinado por uma razão inata, uma lei moral universal que o faria nascer sabendo o que é certo. Kant introduz o conceito de imperativo categórico, afirmando que apenas as ações que podem ser universalizadas, ou seja, realizadas por todos, seriam moralmente aceitas. Um exemplo, não podemos mentir, pois se todos mentissem, não saberíamos o que é a verdade e a própria mentira não existiria mais.
E por último, apresento a visão filosófica de Jean-Paul Sartre, filósofo francês do século XX, que afirmou que o homem nasce sem essência. Nem bom, nem mal. Mas, que sua natureza seria construída durante sua vida através de seus atos, devendo ser considerado responsável por suas ações, sendo elas boas ou ruins.
Quem terá razão sobre a natureza humana? Poderíamos conclui que todos a sua maneira, baseados na observação das sociedades em que viveram, perceberam no homem a presença do bem e do mal, e da necessidade de ter mecanismos que os conduzissem a uma vida digna de ser vivida em comunidade.
Com a Banda Capital Inicial mandando ver com O Bem, o Mal e o Indiferente o podcast acaba por aqui, mas nossa interação pode continuar em www.nerdcursos.com.br/podcasts. Lá, você pode ler o roteiro do programa, acessar links e alimentar o podcast com dúvidas e comentários, que podem dar origem a outros programas.
Participaram deste episódio: na abertura, a banda Simple Plan com Welcome To My Life, durante o programa Fagner, Tim Rescala, Alanis Morissette, Pitty, Capital inicial, um time filosófico de primeira, e eu, o professor Marco Nunes, sempre empatia com você que está na luta para se dar bem no Enem e vestibulares.
E para terminar uma frase do médico psiquiatra, professor e escritor Augusto Cury:
“A capacidade de se colocar no lugar do outro é uma das funções mais importantes da inteligência, pois demonstra o grau de maturidade do ser humano. ”
Sinal de final da aula.